domingo, 10 de abril de 2011

Domingo, dez de abril de dois mil e onze.

Ainda estou no meio do mar, ainda navegando rumo ao destino final, ansiando o grito de “Terra à vista!”. Faz muitos dias, desisti de interrogar calendários, apenas rabisco vez ou outra algumas memórias para que o marasmo não me destrua as lembranças. Já me acostumei com o balanço do mar, acho que terei dificuldades em manter o equilíbrio em terra firme. No entanto, a terra firme não me parece tão firme assim. Tsunamis, tempestades, atentados, tentativas de paz seladas com guerra, inocentes mortos, homens invadindo escolas e atirando em crianças buscando não se sabe o que, mais inocentes morrendo, sangue escorrendo por todos os lados. Ainda é difícil perceber que a terra firme anda um tanto trêmula e enquanto o barco continua no seu vai e vem sem fim, me abasteço com o sal da água e atualizo páginas repletas de “www” a fim de entender o que exatamente acontece do outro lado, nos continentes. Aqui no mar tudo continua como antes, acordo cedo, rego minhas plantas, preparo meu café, arrumo meus pratos, trabalho no convés e remo meu tédio enquanto o barco dança ao sabor do vento. Sinto saudades tuas, daqueles momentos em que rodávamos de mãos dadas e olhos fechados sentindo o zumbido da vida nos nossos ouvidos e nossas risadas se entrelaçavam intimamente. É, parece que foi ontem e sei, ando um tanto saudosista, mas é que o vai e vem do mar anda desenterrando lembranças. Outro dia me recordei daquele velho que morava na nossa rua e de um dia para o outro desapareceu. Não sei, ainda sinto saudades dele e de suas meias de bolinhas. Faz tempo. Tanto que não sei. E sinto saudades tuas aqui nesse mar. E lhe escrevo para não me perder no tempo dos dias e sinto isso aqui, olhando em frente. É como se o horizonte representasse a nossa distância e não há previsão de terra firme. O salgado da brisa toca meus lábios e eu recordo do velho, nós girando e um passado antigo. Estou no meio do mar, partindo para o horizonte, distante de você, cada vez mais entregue ao vai e vem, ainda um tanto surpresa com os últimos acontecimentos, acalentada pela brisa fresca, remando meu tédio, trabalhando aqui e ali, construindo lembranças e desenterrando outras tantas. Sigo em frente, um dia finalmente aporto em outro canto. Sinto saudades tuas, você sabe. Mas não lembro mais há quanto tempo. Sei - apenas - que sim, parti.

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