sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

sobre o que ficou saudade.


Soube agora a pouco que uma grande e queridíssima professora faleceu. Seu nome era Mercedes Carvalho e ela foi uma das pioneiras da psicologia baiana. Dona de uma personalidade forte e destemida, me ensinou muito sobre coisas do mundo psi e de outros tantos.

O sentimento que nutria por ela era de completa admiração do ser humano. Durante um ano e meio freqüentamos o Nordeste de Amaralina para ensinar idosas através do método Paulo Freire. Eu adorava esse projeto e ela também. Aos 70 e tantos anos, não se intimidava quando os conflitos entre traficantes e policia estava mais acentuado. Dizia simplesmente que não tinha medo da morte.

Por baixo daquela mulher às vezes rígida existia um ser humano no melhor sentido da palavra. Sempre respeitei o poço de conhecimento que ela era e adorava quando ela me chama de “Marilhinha”. Adorava suas histórias sobre sua longa vida e detestava o behaviorismo. Ela sabia daquilo, ela era amante declarada de Skinner, mas respeitávamos nossas diferenças. Aos poucos, descobri a sistêmica, com sorte, nunca perdi Mercedes na minha vida.

No meu último semestre, Mercedes foi desrespeitosamente demitida da Faculdade Ruy Barbosa e comigo, levei a decepção de uma faculdade que zelava pelo clima “familiar”. Éramos poucos no turno matutino, apenas a Psicologia e o Direito e este era um dos motivos de eu adorar a Ruy. Os professores eram os melhores e Mercedes ocupava um local de quase coordenadora. Com ela eu me sentia a vontade para deixar clara minhas opiniões sobre tudo e aprendi tanto e tanto que a destaco como minha professora mais importante nos meus 5 anos de graduação.

No ano que vem teríamos sua aula na pós-graduação, estava ansiando para reencontrá-la já que um ou dois momentos que programei com outros colegas do estágio do Nordeste para visitá-la, não se concretizaram. Ainda não sei o que houve com ela, mas como estou no interior, não poderei ir para seu enterro.

O adeus a Mercedes Carvalho hoje é um exemplo claro daqueles momentos em que nos sentimos tristes por não ter feito algo, por não ter dito algo. A última vez que a vi foi na minha formatura, quase dois anos atrás. Tenho fotos com ela e uma delas é um abraço lindo. Logo depois da formatura, lhe mandei uma carta com minha foto e um bilhete, não me recordo mais o que escrevi, mas estava lhe agradecendo por tudo. Por tudo que fez e pelo quanto acreditou em mim.

Não era fã de Skinner, nunca entendia bem reforço negativo ou certos pontos behaviorista, mas era uma fã declarada da professora Mercedes. Sempre a levarei comigo, como uma das figuras pioneiras da psicologia e muito mais, como uma das figuras importantes em minha vida. Nunca esquecerei nossas aventuras no Nordeste, nossas supervisões, seu amor pelas velhinhas, seu amor pela psicologia e por seus alunos.

Ainda me divirto hoje ao recordar suas discussões sobre Behaviorismo com Drica enquanto as aulas não começavam, ainda lembro do seu rosto bonito e do seu sorriso caloroso. Mas, hoje, ao saber da notícia, sinto falta daqueles abraços gostosos que nunca mais receberei e que com certeza, sentirei falta para todo o sempre. Adeus, professora.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

clarice (de novo).


" a vida é igual
em toda a
parte
e o que é
necessário
é a gente
ser a
gente"

[2011 é o ano do auto-encontro - encontro (en-con-tro) s. m. Ato ou efeito de encontrar. Casual posição face a face com uma pessoa ou coisa. Colisão de dois corpos: encontro de veículos. Combate imprevisto entre duas tropas em marcha. Competição esportiva. Luta. Duelo. Confluência de rios. Achado. Ponto de articulação das asas das aves com o rádio e o cúbito. Encontro de contas, acerto. loc. prep. Ao encontro de, à procura de, a favor de. loc. prep. De encontro a, contra, em oposição a.]

(Me acredite.) Não quero demais, para, assim, não querer menos.


(...)

Não é sempre que me desencontro, querida, agora apenas me afogo em mim nesse mar de sal tóxico. Às vezes me perco por conta de uma maré desavisada e agitada que me pega de jeito e me leva para a praia enchendo minha boca de uma areia amarga e sem vida. Não sou sempre assim, mas o sempre não me existe, existe apenas o que sou. E o que eu não sou, ainda, não sonho ser. Não por não querer, mas por desejar pequenas e significativas vitórias. Não quero demais, para, assim, não querer menos.

O que eu desejo, bem do fundo, nem o fundo do coração conhece e o que eu sonho os desejos não alcançam. Nem sempre sou esse conjunto de palavras tortas e bêbadas, querida, não se assuste. Sou calma como o vento em dia de brisa e repleta como uma bola de ar que flutua em direção ao céu azul. Me esvazio porque o sol dói as vistas e me preencho novamente como a maré que se vai para se voltar para si e se enche na busca por mais uma parte de areia, buscando sempre e sempre um dia seguir adiante.

Não sou sempre esse conjunto torto de falsas promessas e desilusões, acredite. Mas venho desse tudo que não é nada em mim, venho desse nada que se torna tudo. Venho desse DNA por vezes pesaroso e dessa pele maldita que me encharca de sal que queima minhas feridas.

Assim, não se espante, quando cansada delas, me revista com tecidos analgésicos e acaricie minhas feridas como um gato que banha a própria pele. Acredite, sou eu quem trato minha feridas e quem sossega meus demônios. Nasci de uma teimosia inquietante e sigo nela para encontrar enquanto as chamas e a parafina da esperança queimam meus dedos e meu tudo. Não desisti, acredite.

Mas...

Existem dias que nasceram para serem riscados do mapa. E agora, querida, enfrento um enxame deles. E todos eles me espetam a pele com ferrões venenosos que, por hora, não suporto. Eu sei, não deveria ser assim, mas estou cheia de me prender às conquistas, querida, por hora minhas feridas doem e me cansam. Aqui está tudo e a parafina da vida me açoita a pele. Acredite, logo eu volto. Mas, momentaneamente, me deixe descansar a cabeça no seu colo e chorar mais um tanto. Não sou feita apenas de vitórias, querida, e as feridas da vida por hora me rasgam a pele. Por hora, querida. Me acredite.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Pequena Abelha


"Nas pernas escuras da moça havia muitas cicatrizes brancas pequenas. E pensei: Será que essas cicatrizes estão no seu corpo inteiro, como as luas e estrelas no seu vestido? Achei que isso também seria bonito, e peço-lhe neste instante que faça o favor de concordar comigo que uma cicatriz nunca é feia. Isto é o que aqueles que produzem as cicatrizes querem que pensamos. Mas você e eu temos que fazer um acordo e desafiá-los. Temos de ver todas as cicatrizes como algo belo. Combinado? Este vai ser o nosso segredo. Porque, acredite em mim, uma cicatriz não se forma num morto. Uma cicatriz significa: 'Eu sobrevivi'."

Pequena Abelha - Chris Cleave.


A sinopse fala por si:
Não queremos lhe contar o que acontece nesse livro.
É realmente uma história especial, e não queremos estragá-la. Ainda assim, você precisa saber algo para se interessar, por isso vamos dizer apenas o seguinte: Essa é a história de duas mulheres cujas vidas se chocam num dia fatídico. Então, uma delas precisa fazer uma escolha que envolve vida ou morte. Dois anos mais tarde, elas se reencontram. E tudo começa... Depois de ler esse livro, você vai querer comentá-lo com seus amigos. Quando o fizer, por favor, não lhes diga o que acontece. O encanto está sobretudo na maneira como a narrativa se desenrola.

Quanto a mim, ainda não sei bem como explicar o que ele significou.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Elza.

Quinta-feira, 16 de dezembro de 2010, eis que aconteceu algo inesperado. Estava eu no meu período de férias (que por excesso de compromissos não posso chamar de periodo tedioso), fui almoçar com meu tio querido e o noivo-rido, então surgiu o convite (que vindo do tio mais parece intimação). Assim, fui para o cinema da UFBA (que adoro por ser pequeno, vazio e apesar de mal cuidado, transpira coisas muito diferentes que o cinemark e o multipex não compreendem).
Assisti o documentário de Elza Soares. Já fui a um show dela no TCA anos atrás com o mesmo tio e o noivo-rido. Nunca fui fã da mulher em questão, mas achava incrivel a voz dela. Após o documentário, fiquei mais encantada e me chamou a atenção coisas que todos diziam: "Elza não se explica".
Durante o filme, me peguei imaginando em quantos números de CID colocariam essa mulher, mas então suspiro de alívio ao perceber que as coisas mudaram um pouco na classificação.
Ela é e ponto, sem definições ou diagnósticos.
O ponto alto do pequeno documentário (além da fotografia belissima), foi Caetanto e ela cantando "Dor de cotovelo". Não conhecia a música, mas adorei. Principalmente porque pelo que meu tio contou, Caetano escreveu essa música para ela. E enquanto cantava, ela chorou mais do que cantou.

Achei bonito.
E ultimamente, com o clima "fim de ano", venho buscando coisas bonitas para me lembrar.


Dor de Cotovelo

Elza Soares
Composição: Caetano Veloso

O ciúme dói nos cotovelos,
na raiz dos cabelos,
gela a sola dos pés.

Faz os músculos ficarem moles,
e o estômago vão e sem fome.
Dói da flor da pele ao pó do osso.
Rói do cóccix até o pescoço
Acende uma luz branca em seu umbigo,
Você ama o inimigo e se torna inimigo do amor.
O ciúme dói do leito à margem,
dói pra fora na paisagem,
arde ao sol do fim do dia.

Corre pelas veias na ramagem,
atravessa a voz e a melodia.

Vídeo

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Ê, Clarice!


Washington, 5 de outubro de 1953, segunda-feira

Fernando,

Não tenho feito muitos amigos (salvo uma enfermeira da maternidade que gostou de mim e depois de quase oito meses de Paulinho nascido vem me visitar na folga — hoje toma chá comigo), e não tenho influenciado nenhuma pessoa. Tomo menos milk-shake e levo uma vida diária vazia e agitada. Passo o tempo todo pensando — não raciocinando, não meditando — mas pensando, pensando sem parar. E aprendendo, não sei o que, mas aprendendo. E com a alma mais sossegada (não estou totalmente certa). Sempre quis “jogar alto”, mas parece que estou aprendendo que o jogo alto está numa vida diária pequena, em que uma pessoa se arrisca muito mais profundamente, com ameaças maiores. Com tudo isso, parece que estou perdendo um sentimento de grandeza que não veio nunca de livros nem de influência de pessoas, uma coisa muito minha e que desde pequena deu a tudo, aos meus olhos, uma verdade que não vejo mais com tanta frequência. Disso tudo, restam nervos muito sensíveis e uma predisposição séria para ficar calada. Mas aceito tanto agora. Nem sempre pacificamente, mas a atitude é de aceitar.

achado em: don't touch(...)


(férias do trabalho = férias pra vida. vou tomar fôlego novo pra entrar bem 2011... assim espero.)

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

segunda-feira (de novo).



e se o mundo fosse um grande twitter, com certeza eu retwittaria meu ultimos post!

é pedir muito um pouco de sossego?