quarta-feira, 29 de junho de 2011

Do coração pequenino.


Imagine quatro horas filtrando um sangue para continuar vivendo. Imaginou? Imagine receber a notícia de que o seu rim parou de funcionar e você precisa de dialise. Imaginou? Agora imagine que suas veias não suportem mais a hemodialise e você precise de um transplante renal ou então... Você sabe o que acontece. Por fim, imagine que, após o transplante, o rim que você recebeu não funcione e você volte para a hemodialise. Imaginou? Pois é, para aproximandamente 50 mil brasileiros está é uma realidade e não apenas imaginação. 
Quatro horas em uma máquina, três vezes por semana, dieta restrita, ingestão controlada de liquido, mil riscos e um punhado de limitações. Sem falar nas marcas causadas por cateteres, fistula, tombros, e tudo o que envolve a imagem corporal. Some a isso a restrição de atividades laborais, as mudanças sociais, as doenças associadas e por aí vai. Para aproximadamente 50 mil brasileiros está é uma realidade. 
Uma realidade difícil, é um fato. E todos os dias, trabalhar com esses seres humanos me desperta para milhões de novos questionamentos. 
Porque eu estou falando disso? Porque não é fácil viver essa realidade mesmo quando você está "protegido" por um jaleco. Quando você trabalha há dois anos com os mesmos pacientes, conhece as historias deles e constroem um vinculo, é difícil pensar em perdê-los. E aceito, a morte faz parte da vida. Mas não deixa de ser difícil. Porque, acredite, não é fácil. 
Por outro lado, como disse outro dia, não há salário que pague um sorriso, um abraço, um alento, um alívio, um encontro... Não há dinheiro no mundo que pague todas as boas energias que recebi dos meus pacientes,  muito menos a satisfação de desempenhar bem o meu trabalho, compartilhando todo esse cotidiano difícil. 
Não se espante, quando se entra em uma sala de hemodiálise não se encontra apenas a gravidade e a cronicidade de um adoecer, também se encontra os sorrisos, as brincadeiras, as conversas, as trocas e a alegria por estar vivo. 
Ser renal crônico não é simples, não é fácil e em determinados períodos vivenciar essa realidade dos pacientes se torna ainda mais duro, o coração fica pequenino. Porque alguns logo partem. E aqui na Terra, ficam seus sorrisos e a graciosidade em superar os mais dificeis desafios. 

Um comentário:

  1. Creio que nesse espaço que você trabalha aja alegria,porém acho que eu não suportaria ver a dificuldade e a dor que essas pessoas passam,vejo frequentemente o que é uma pessoa conviver com a dor,porém,ver esse sofrimento todos os dias acho que seria demais pra mim,por isso admiro quem trabalha nessa área e pode ver que ainda há alegria por trás de tanto sofrimento.

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