sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

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e da mesma forma como ela temia a noite por ser escura, ela temia o dia por sua luz. seus olhos assustavam-se com o futuro da mesma forma como o passado lhe eriçava os pêlos do corpo e tremia as suas bases. ela não sabia bem como ser o que deveria, sem esbarrar na dúvida e na descrença. ela não sonhava que vivia, ela vivia e sonhava invariavelmente, cotidianamente e, muitas vezes, de forma insuportável. ela desacreditava e sonhava e ás vezes se encharcava, mas ia e esperava e dóia. era sempre sem fim, ela sabia, ela desconhecia e os olhos magoavam e as lágrimas se iam.
a luz trazia o que ela não queria enxergar, a vida que ela não aprendeu a lutar, os sonhos que não condiziam. e a noite, com sua penumbra, produzia mais medos, mais monstros, mais castelos, mais princesas, desfazia a claridade, constuía um mundo. e o mundo a asustava.
e quando a noite se ia e a luz surgia, o susto se tornava cansaço e as dúvidas, tristeza. ela não era uma soma, mas sim multiplicação.
soma seria uma operação matemática banal frente à sua grandeza de vida. ela sabia. e ia. e dóia. e sorria. mas ia. indo até onde dava, descansando quando o corpo exauria e vivendo da maneira como podia.
ali estava toda a poesia, a alegria, a harmonia, a companhia, a agonia, a fantasia. e tudo ia e voltava como um mar. uma hora ou outra, com luz ou com escuridão, seus olhos pesavam e ela sofria. em muitas outras, o sol a alegrava e ela corria. era um carrossel, um mar vivo. era ela. e assim seria.
e quando o medo da escuridão ameaçava encobrir mesmo o sol do dia, seus pés firmavam o chão e ela buscava um tudo. cada dia mais, cada minuto a mais, a cada respiração a mais, ela buscava e encontrava.
e mesmo com a ameaça da escuridão, ainda havia.

foto: sabino.

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