terça-feira, 25 de maio de 2010

Um remédio para as emoções


Sentado em um frio leito de UTI, um senhor de corpo robusto e fisionomia séria relembra a conversa de horas antes, enquanto os ruídos intensivos não lhe deixam dormir. Durante aquele diálogo passado, ele pedia um remédio para as emoções. Este não era um medicamento qualquer para uma dor física, muito menos um dose certeira para aplacar um incômodo cardíaco. O homem falava sobre a sua alma e buscava uma saída para um mal que não conhecia cura.

Não desejava um antídoto como os tão falados inibidores de serotonina ou os tricíclicos, estes apenas apagariam seu sentir. O homem desejava uma dose para aplacar tudo o que carregava consigo, aquilo que era a soma de todos os anos vividos. Um sentir que médico algum conseguiria apalpar e examinar, que exame algum encontraria origem, aquela que nenhum avanço da medicina o isolaria do risco.

O tal senhor não sabia realmente se não queria sentir tudo aquilo, mas, naquela noite, isolado do seu mundo e cercado por aparelhos e por sons inquietantes, ele considerava tudo aquilo muito pesado. Assim, buscava um alívio para o seu corpo cansado. Não queria pensar em suas escolhas e caminhos, simplesmente porque não podia voltar atrás. Irritava-lhe a perspectiva de pensar no amanhã quando a noite lhe parecia interminável.

Sentado, inquieto, sozinho e com frio, tinha apenas um visitante. A sua emoção. Esta nunca seria singular, precisava de muitos plurais. Todas elas sem juízo de valor, sem definição entre bondade e maldade, todas elas o cercavam.

O homem pedira um remédio e desconhecia a existência de substância capaz de aplacar – e não sufocar – o que sentia. Ele sabia apenas que cercado por tais emoções, não era fácil imaginar em quanto tempo viria o dia seguinte.

Então, exausto, ele adormeceu enquanto o medo e a tristeza lhe acariciavam os cabelos. Não soube quantas horas se passou, mas com eles também estavam a felicidade e o amor. O homem não criticava ou analisava as companheiras, apenas queria um remédio para elas. Dormindo, sonhou um amontoado de sonhos misturados que não lhe disseram nada. Em todos eles, estava sempre buscando a resposta do seu pedido.

Quando acordou sobressaltado, ainda era noite e todas as emoções o olhavam com a mesma atenção. Ele fechou os olhos sabendo que não mais dormiria, apenas não queria vê-las por um instante.

Exausto, possuía a certeza de que não haveria o remédio tão desejado, sabia que nunca encontraria a resposta. Certamente, todos os outros pacientes, em algum momento da vida, desejaram tal medicamento. Em vários momentos, ele concluiu. Certamente, todos os seres da Terra sucumbiram a tal desejo. Uns sabiam que não encontrariam, outros morreram buscando, de forma incessante, alcançar.

O homem manteve os olhos fechados e suspirou. Mais cedo ou mais tarde, o sol nasceria e novamente seria dia outra vez. Sem remédio, sem resposta. Mas seria dia outra vez.


foto.


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